A estrutura paroquial é frequentemente observada sob dois modelos: o Piramidal e o Rede de comunidades. O primeiro (Piramidal), centraliza a organização e a ação pastoral da paróquia na matriz e em um número reduzido de lideranças, que pode se limitar ao padre ou à equipe comandada pelo padre. Nesse modelo, as comunidades são periféricas, porque são vistas como anexos do centro (matriz), e os fiéis são conduzidos a colaborar (não a participar) no trabalho dirigido pelo padre ou pela sua equipe. O segundo modelo (Rede de comunidades), dinamiza a vida paroquial por meio da organização de cada comunidade, incluindo a comunidade–matriz, e da participação de todos em um projeto pastoral pensado e planejado pelos que compõem as diferentes comunidades. O modelo piramidal tem como palavras–chave a centralização e a colaboração (as pessoas não participam, mas colaboram no trabalho idealizado por outros); o modelo rede de comunidades tem como elementos–chave a comunhão e a participação.
A Paróquia São Mateus Moreira, do III Zonal da Arquidiocese de Natal, orienta–se pelo modelo Rede de Comunidades e se inspira em dois símbolos na realização da sua atividade pastoral e missionária, a saber: a mística da mesa e a espiritualidade da semente.
1. A mística da mesa
No início da sua ação Jesus convidou alguns homens para se unirem a ele na missão (Mc 1,12s). Inicialmente, Jesus formou o grupo dos Doze (Mt 10,1-4) e, mais tarde, o grupo dos Setenta e dois discípulos, certamente incluindo algumas mulheres que o seguiam (Lc 10, 1-12). Essas são as primeiras comunidades cristãs. Frente à formação e à multiplicação de novas comunidades, já após a morte e a ressurreição de Jesus, os primeiros cristãos adotam a Trindade como fundamento e modelo inspirador: “Existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo; diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos.” (1 Cor 10,4-6).
Inspirada na experiência dos primeiros cristãos, a Paróquia São Mateus Moreira opta pelo modelo Rede de comunidades porque acredita que é o que mais se aproxima do ideal trinitário de comunhão e de participação.
No modelo Rede de comunidades tudo é dividido e descentralizado. Todos compartilham dos mesmos desafios, necessidades, inquietações, sonhos e alegrias. As pessoas participam do trabalho que é idealizado por elas mesmas. Cultiva–se e prioriza–se o espírito de equipe. Na Paróquia Rede de comunidades as coisas não aparecem prontas. Elas são esboçadas e amadurecidas paulatinamente e realizadas em conjunto. É fundamental a escuta, o diálogo e a troca de pontos de vista e de experiências. As pessoas aprendem umas com as outras. Comunhão e participação são os sentimentos que regulam a ação das pessoas e o coração dos vários espaços paroquiais.
Para as culturas por nós conhecidas e para as pessoas que compartilham suas vidas a mesa é lugar de encontro, de partilha, de trabalho, de celebração, de festa, de comunhão e de amizade. Por isso, a mesa se tornou um símbolo relevante e precioso na vida da nossa paróquia. É nessa perspectiva que entendemos a mística da mesa.
Nossa paróquia está dividida em quatro comunidades (Nossa Senhora de Nazaré, Santa Teresinha, Nossa Senhora de Fátima e Jesus Menino) e cada comunidade divide–se em quatro quadras (Q1, Q2, Q3 e Q4). Por sua vez, cada quadra tem suas pastorais, serviços, grupos e movimentos. Pensamos nessa subdivisão para facilitar e promover a participação do maior número possível de pessoas, e tudo acontece em forma de rodízio. Por exemplo, a vida litúrgica da nossa paróquia organiza–se em quatro momentos celebrativos: sábado à noite, domingo pela manhã, domingo à tarde e domingo à noite. Cada um desses momentos é assumido por uma comunidade e cada quadra dessa comunidade assume uma semana por mês. Esse revezamento acontece a cada Advento
Celebração | Comunidade | Quadra | Semana |
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Sábado noite | Comunidade Jesus Menino | Quadra I Quadra II Quadra III Quadra IV | Primeira semana do mês Segunda semana do mês Terceira semana do mês Quarta semana do mês |
Domingo manhã | Comunidade Santa Teresinha | Quadra I Quadra II Quadra III Quadra IV | Primeira semana do mês Segunda semana do mês Terceira semana do mês Quarta semana do mês |
Domingo tarde | Comunidade Nossa Senhora de Nazaré | Quadra I Quadra II Quadra III Quadra IV | Primeira semana do mês Segunda semana do mês Terceira semana do mês Quarta semana do mês |
Domingo noite | Comunidade Nossa Senhora de Fátima | Quadra I Quadra II Quadra III Quadra IV | Primeira semana do mês Segunda semana do mês Terceira semana do mês Quarta semana do mês |
Estrutura da paróquia 2. A espiritualidade da semente
Na semente está a essência da vida, o dinamismo que faz brotar, crescer, florir e frutificar. Em toda semente a vida está latente, porque tem em si uma força potencial de crescimento e de identidade. Essa força é o impulso a partir do qual desperta o processo de desenvolvimento da vida. Talvez por isso, o Reino de Deus é comparado a uma semente, porque é capaz de desabrochar em cada um de nós e no entorno (comunidades, cidade...) até atingir a sua plena maturação — o fruto.
O sonho de Jesus de assentar todos à mesa do Reino supõe, em nossa paróquia, assentar todos à mesa da comunidade para saborear o fruto da semente.
Para nós, a espiritualidade da semente traduz o processo de crescimento pessoal e comunitário, feito ao redor da mesa (comunidade), iluminado pela Palavra (evangelho) e cultivado segundo o espírito dos tempos litúrgicos.
Os tempos litúrgicos são assim compreendidos: do Advento à Páscoa é o tempo adequado para a formação e o Tempo Comum é a etapa propícia para a vivência. Claro que formação e vivência se entrelaçam permanentemente no cotidiano da nossa caminhada. Fazemos essa separação para que dediquemos uma atenção especial a cada uma dessas dimensões (formação e vivência) em um determinado momento da caminhada.
2.1. Tempo de formação
Advento
No Advento a vida germina. A cor rosa anuncia a alegria da promessa que vai se cumprir. Anuncia–se a vinda do Messias e do Reino de Deus. É o tempo do plantio da semente do Reino em nossa vida. Advento é o caminho da esperança.
Vivemos o Advento ao longo de quatro domingos, cujos evangelhos sugerem temas que são refletidos no decorrer da semana.
Tempo do Advento | Temática |
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I Domingo | Justiça, uma semente essencial |
II Domingo | Coração, terra do plantio |
III Domingo | Água que rega e fecunda |
IV Domingo | Luz que aquece e faz germinar |
Natal
No Natal a vida desabrocha. A cor amarela simboliza a chegada do novo Rei e do novo Reino. Nasce o Messias. A semente desabrocha e a vida brota. Natal é o caminho coberto de vida.
O tempo de Natal compreende quatro domingos que têm, conforme seus respectivos evangelhos, os seguintes temas:
Tempo do Natal | Evangelho | Temática |
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I Domingo | Nascimento, o Verbo se fez carne | Natal de Jesus |
II Domingo | Família, ninho de amor | Sagrada Família |
III Domingo | Apresentação do menino | Epifania |
IV Domingo | Batismo, nova vida | Batismo de Jesus |
Quaresma
Na Quaresma a vida é ameaçada. A cor roxa significa as tentações, os desafios e os obstáculos que encontramos na vida. A Quaresma convoca–nos a podar as forças do mal que impedem o crescimento da vida. Todo tempo litúrgico é propenso à mudança de vida. Todavia, a Quaresma é o caminho de um cultivo mais atento para a conversão.
Na Quaresma os nossos passos se estendem por cinco domingos, que versam sobre estes temas:
Tempo da Quaresma | Evangelho | Temática |
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I Domingo | Tentações de Jesus | Contra si — o ter (egoísmo) Contra o outro — o poder (exploração) Contra Deus — o prazer (Deus ao meu serviço) |
II Domingo | Transfiguração de Jesus | Rosto desfigurado e rosto transfigurado |
III Domingo | A samaritana | Lavar o rosto na fonte da água viva |
IV Domingo | O cego de nascença | Um novo olhar para a vida |
V Domingo | Lázaro | Renascer para a vida |
Páscoa
Na Páscoa a vida é resgatada. A cor branca simboliza a paz e a vitória, porque na Páscoa a vida latente da semente resplandece. É tempo de celebrar os sinais de vida que se manifestam ao nosso redor. Páscoa é o caminho da libertação.
Na Páscoa percorremos uma trilha de cinco domingos, cujos temas são baseados nos evangelhos do dia.
Tempo da Páscoa | Evangelho | Temática |
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I Domingo | Maria Madalena | Acreditar e tomar a iniciativa |
II Domingo | Tomé | Encarar a realidade |
III Domingo | Discípulos de Emaús | Fazer o caminho |
IV Domingo | O bom pastor | O guia do caminho |
V Domingo | Comunidade, lugar para todos | Várias moradas na casa do Pai |
Tempo comum
No Tempo Comum a vida acontece. A cor verde significa vida. Há que preservar a vida no nosso cotidiano. É tempo de fazer a vida acontecer e fluir para se viver intensamente.
No Tempo Comum cada mês é sinalizado por um tema geral, o qual é escolhido a partir das ideias centrais do evangelho de cada domingo.
Mês de Junho CONSCIÊNCIA DE SER IGREJA |
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Semana | Temática |
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I Domingo | Igreja acolhedora |
II Domingo | Igreja que defende a vida |
III Domingo | Igreja do perdão e da misericórdia |
IV Domingo | Igreja da comunhão e participação |
Mês de Julho O CHAMADO |
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Semana | Temática |
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I Domingo | Quem chama? |
II Domingo | Para que chama? |
III Domingo | Por que me chama? |
IV Domingo | Desafios do chamado |
Mês de Agosto A RESPOSTA |
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Semana | Temática |
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I Domingo | Por interesse |
II Domingo | Negativa |
III Domingo | Positiva |
IV Domingo | Comprometida |
Mês de Setembro FORMAÇÃO |
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Semana | Temática |
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I Domingo | Humildade e simplicidade |
II Domingo | Prioridade da missão |
III Domingo | Acolhimento e perdão |
IV Domingo | Coerência |
Mês de Outubro MISSÃO |
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Semana | Temática |
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I Domingo | Cuidar de si |
II Domingo | Família |
III Domingo | Comunidade |
IV Domingo | Sociedade |
Mês de Novembro OS FRUTOS DA MISSÃO |
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Semana | Temática |
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I Domingo | Bem-aventuranças |
II Domingo | Todos ressuscitarão |
III Domingo | Criatura humana, templo de Deus |
IV Domingo | Rei do Universo |
Enfim, é sob o horizonte da Paróquia Rede de Comunidades e a inspiração da mística da mesa e da espiritualidade da semente que caminhamos e seguimos adiante na difícil arte de planejar e de concretizar um jeito vivo de ser igreja.
No Primeiro Domingo do Advento é entregue a cada comunidade, quadra, grupo, pastoral, ministério e serviço, e também a cada pessoa, uma semente. Nessa semente cada um coloca um projeto de vida que é cultivado à luz do evangelho proclamado em cada domingo e amadurecido ao longo da semana nos grupos de rua. Esse percurso culmina na Festa de Cristo Rei. Nessa festa são entregues e partilhados os frutos de todas as sementes. É uma festa repleta de alegria, mas também de compromisso, porque dos frutos surgem novas sementes que nos estimulam a seguir adiante neste caminhar ininterrupto.
Acreditamos que com esse modo próprio de caminhar, que exige de nós um amadurecimento e um engajamento contínuos, e com as diretrizes do Plano Pastoral da nossa Arquidiocese, somos uma igreja viva neste recanto da Arquidiocese de Natal.